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Síndrome metabólica – A montanha-russa do açúcar

Vamos então fazer um teste “tipo revista cor-de-rosa”, some o número de pontos (cada tópico vale 1 ponto) que tem, e veja no final o resultado:

– Obesidade, ou pelo menos uma barriguinha que teima em não baixar;

– Diabetes, pré-diabetes, ou mesmo valores da glicémia em jejum que geralmente estão acima dos 85 mg/dL;

– Triglicéridos altos;

– HDL baixo (“bom colesterol” – veja o artigo referente ao colesterol)

– Outros valores do colesterol alterados, mesmo seguindo uma dieta que pensa ser equilibrada;

– Hipertensão controlada por medicação, ou uma tensão que tem tendência para estar sempre mais para o alto, mesmo que o médico não valorize esses valores;

– Sente várias vezes fome ao longo do dia;

– Ainda é novo/a, mas a memória já falha um pouco ou tem dificuldade em concentrar-se;

– Às vezes sente algumas dormências nos pés, mãos, etc., o se tem o Síndrome do Túnel Cárpico ou Neuroma de Morton;

– Faz todos os tipos de dieta, ou tem uma alimentação “equilibrada”, e mesmo assim o ar engorda;

– Já se aproxima dos 50 e começa a ter sintomas de menopausa;

– Alguma doença Autoimune (Artrite Reumatóide, Lúpus, Esclerose Múltipla, Psoríase…);

– Algum sintoma que estava à espera de aqui ver na lista, mas não encontra, esse também serve para continuar a ler!

Se tiver pelo menos um ponto, já poderá sofrer de síndrome metabólica, e quantos mais tiver, mais grave será a situação.

Mas afinal o que é esta Síndrome Metabólica?!

Em 1988 o Dr. Geral Reaven (investigador de longa data sobre Diabetes e Insulinorresistência), durante uma Bating Lecture, palestras organizadas pela American Diabetes Association, apresentou uma investigação sobre um problema emergente que dominou de Síndrome X [1], e mais tarde foi nomeado de Síndrome Metabólica (SM). Reaven descobriu que cada vez mais havia pacientes com resistência à insulina, o que os predispunha a problemas cardíacos. O sedentarismo começou por ser o principal culpado da SM, mas hoje em dia já são considerados vários fatores de risco:

– Resistência à insulina;

– Dietas ricas em açúcar e gorduras (aqui não estou totalmente de acordo, como explicarei mais adiante);

– Falta de rotinas alimentares e poucas horas de sono;

– Fatores genéticos;

– Distúrbios Hormonais;

– Envelhecimento.

São avaliados alguns marcadores para se considerar que um paciente tenha SM, embora por vezes sejam controversos quais os pontos a serem verificados [2]:

– Perímetro da cintura aumentado, conforme os valores nacionais;

– Triglicéridos elevados (≥ 150 mg/dL) ou sob medicação com fibratos, niacina ou a fazer altas doses de ácidos gordos ómega 3;

– HDL baixo (< 40 mg/dL em homens e < 45 mg/dL em mulheres) ou sob medicação com fibratos ou niacina;

– Pressão arterial elevada (pressão sistólica (≥ 130 e/ou diastólica ≥ 85 mm Hg) ou em tratamento com anti-hipertensores;

– Glicémia em jejum elevada (> 100 mg/dL) ou em tratamento com antidiabéticos.

Eu considero que se os valores da glicémia forem superiores a 85 mg/dL já é fator de risco.

A SM é considerada um fator de risco muito elevado para o desenvolvimento de doenças Cardiovasculares. Mas acredito que a influência da SM vá mais além do que é medicamente aceite, e faltam igualmente alguns marcadores para esta avaliação, como a Hemoglobina Glicada e a Proteína C Reativa (PCR), ou até mesmo o marcador mais recente de Proteína C Reativa de alta sensibilidade (PCR-as). A Inflamação Crónica, os défices hormonais (cada vez maiores pela “perseguição” feita ao Colesterol), a má alimentação e a constante agressão pela mesma ao intestino… Tudo isto contribui para a aumento dos casos de SM que em Portugal já se encontra em 27,5% da população [3], mas se se adicionassem os outros valores que falo, essa percentagem disparava para valores muito superiores.

SM-Cupcakes

 

Sobe e desce do açúcar

Na escola todos aprendemos a roda dos alimentos, e que a maior fatia pertence aos cereais (de preferência integrais). Mas serão mesmo assim as reais necessidades que temos?! Os hidratos de carbono (cereais, sendo o trigo o pior, massas, arroz, batata), quando digeridos transformam-se em açúcar, provocando subidas de glicémia repentinas, e quedas igualmente rápidas. O trigo tem um Índice Glicémico (que provoca a subida de glicémia no sangue) dos mais elevados, e comer uma fatia de pão corresponde a ingerir 2 colheres de sopa cheias de açúcar branco! E é indiferente ser pão branco ou integral, é exatamente o mesmo! Se é diabético, considere seriamente se quer continuar a consumir cereais.

A glicémia ao subir em flecha, o pâncreas tem que se esforçar e compensar com uma maior produção de insulina, e em todas as refeições há hidratos de carbono! Cereais de pequeno-almoço com Leite logo de manhã (carregados de açúcar + hidratos de carbono), ao almoço metade do prato tem arroz e/ou batatas fritas, mais umas fatias de pão à entrada, o lanche uma sandes ou uma torrada, e o jantar muitas vezes repete-se os erros do almoço.

O pâncreas fica desgastado com este constante funcionamento, este sobe e desce de glicémia, e, ao longo dos anos deixa de ser eficiente, começando a desenvolver-se a resistência à insulina. É sabido que esta constante agressão pode levar até 40 anos para que instale uma maior incapacidade do pâncreas a dar resposta e que seja declarada a diabetes.

Nas minhas consultas costumo dizer aos meus pacientes que não são os hidratos de carbono que nos dão uma “boa energia”, eles apenas nos dão uma energia instantânea.

Os hidratos de carbono transformam-se em gordura, a proteína transforma-se em músculo, e quando consumimos gordura, esta sim, transforma-se em energia.

O nosso corpo funciona pela “lei do menor esforço”, e se nós estamos constantemente a dar-lhe hidratos de carbono, são esses que ele vai utilizar para funcionar. Como são sempre em grande quantidade, o excesso acumula-se nos adipócitos (as células gordas), principalmente na zona abdominal.

Pegue em qualquer embalagem de um alimento processado, e veja a quantidade total de hidratos de carbono. Divida por 4, e o resultado vai dar-lhe a equivalência ao número de colheres de chá de açúcar. Por exemplo, um produto indica que tem 20g de hidratos de carbono por cada 100g, isto vai dar 5 colheres de chá de açúcar. Mas não se esqueça, se a dose que for consumir for de 200g, duplicamos os valores, e vão dar 10 colheres de chá de açúcar!

E o que é que isto também vais provocar? A glicação das proteínas. Falei de um marcador essencial, a Hemoglobina Glicada (ou Glicosilada), que vai medir a variação da glicémia no organismo nos últimos 3 meses. A glicação acontece quando a glicose se liga à hemoglobina, a proteína que carrega o oxigénio no sangue até às células, deixando este transporte mais deficiente, causando um envelhecimento celular mais rápido.

O excesso de açúcar no sangue acaba por causar alterações sensitivas, e muitas vezes, mesmo sem se ser diabético, começamos por ter dormências nos pés. Muitas vezes os diabéticos têm sérios problemas de sensibilidade nos pés, e frequentemente têm de amputar alguma parte dos membros inferiores. Outras situações de alterações sensitivas são o Neuroma de Morton e o Síndrome do Túnel Cárpico. Os diabéticos têm igualmente um risco 2x superior aos não-diabéticos em desenvolver Alzheimer.

 

Leptina, Grelina, Insulina e a Glicagina

4 Hormonas com grande importância na regulação da fome e níveis de glicémia.

A Leptina é produzida pelos adipócitos (células gordas) e dá-nos uma sensação de saciedade, e a Grelina produzida pelo estômago, dá-nos a sensação de fome.

A Insulina reduz a quantidade de glicose no sangue, enquanto a Glicagina aumenta a glicose no sangue.

Com a má alimentação, à base de alimentos processados, ricos em gorduras trans e hidratos de carbono, a produção destas hormonas está totalmente desregulada.

A Insulina estimula a produção de Leptina, contudo na SM a resistência à Insulina e a diminuição progressiva da produção de Insulina, faz com que este processo fique afetado.

Uma boa forma de voltar a estimular os adipócitos a produzir mais Leptina é através de jejuns, já que esta aumenta após curtos períodos de jejum.

Há várias formas de fazer jejum, mas o que dou maior preferência é o de 24h.

É mais fácil fazer este jejum ao fim de semana, em que se janta no sábado à noite, e só volta a comer no domingo à noite. Nas primeiras 2 ou 3 horas após acordar sente fome pois o estômago produz Grelina, mas como não há comida, o organismo começa a ir buscar a energia acumulada nos adipócitos, estimulando estes a produzir a Leptina. À noite quando volta a comer, o pâncreas volta a produzir Insulina, continuando assim a estimular a produção de Leptina. Durante este jejum devemos beber muita água e infusões (sem serem adoçadas), já que no cérebro o centro que recebe a informação da fome é junto ao centro que percebe a sede, e ao beber líquidos, a fome reduz.

Knife and fork with a glass of water

Quando fazemos regularmente estes jejuns (ou outros tipos), há uma otimização da produção destas hormonas todas, e consegue-se controlar melhor os apetites a aqueles acessos vorazes de comer doces.

Já vimos a variação da Insulina e como mais ou menos ela influencia a fome e células gordas, mas aqui vou voltar a insistir no consumo dos cereais, principalmente do trigo. O Trigo é um dos principais agressores do Intestino (ver o artigo já publicado), causando uma situação que se conhece por Intestino Poroso. O interior do intestino deveria ser íntegro, sem qualquer falha, para permitir apenas a passagem dos nutrientes, vitaminas e minerais para a corrente sanguínea, mas com o Trigo e com os outros alimentos processados, carregados de toxinas e químicos, acaba por ficar com falhas, permitindo que passem agentes patogénicos e alergénios para o organismo. Assim que o nosso sistema imunitário deteta algo estranho, ataca, acabando por produzir igualmente substância inflamatórias, e até mesmo podendo desenvolver doenças Autoimunes.

Daí eu ter indicado que precisamos do marcador da PCR ou da PCR-as, para se saber o grau de inflamação orgânica que temos, que muitas vezes se torna num estado de Inflamação Crónica, produzindo um stress oxidativo constante, levando a um envelhecimento celular acelerado.

Para não me alongar muito mais, já vimos no artigo do Cancro da Mama o malefício do açúcar, além de qualquer outro tipo de cancro, também poder desenvolver-se com mais facilidade e rapidamente com o açúcar e em ambientes orgânicos mais inflamados.

Quanto mais inflamado o organismo, maior será a probabilidade de problemas Cardiovasculares, como por exemplo num estudo que seguiu pacientes com valores de PCR-as alterados, e a necessidade de substituição da válvula aórtica era maior nestes [4].

Cada vez mais se observa que o consumo de gorduras de boa qualidade não influencia nos valores de colesterol, bem pelo contrário. Constato em vários pacientes meus que reduzem o consumo de hidratos de carbono e com o aumento do consumo dessas boas gorduras (cozinhando com azeite virgem ou extra-virgem, óleo de côco, banha de porco) e com a redução das gorduras trans (margarinas), os valores de colesterol e triglicéridos começam a regular. É também fundamental algum tipo de atividade física, nem que sejam caminhadas de curta duração (30 minutos por dia).

Volto a insistir, nós precisamos de colesterol! Do HDL e do LDL, mas sem estar oxidado por má alimentação. O Colesterol é percursor em conjunto com a Vitamina D, de dezenas e dezenas de hormonas, essenciais para a nossa vida. E quanto mais velhos vamos ficando, mais baixa vai sendo a produção hormonal, pelo que precisamos impreterivelmente de ter colesterol e Vitamina D em boas quantidades. Devemos cada vez mais apostar na ingestão de óleos de peixe (Ómega 3 e Óleo de Fígado de Bacalhau), bem como fazer exposições ao sol de forma regrada sem protetores solares, como expliquei no artigo da Vitamina D. Senhoras lembrem-se que após a menopausa o vosso decréscimo hormonal é enorme!

Um tipo de alimentação que sou apologista (e praticante) é da Dieta Paleolítica, ou Paleo, que vai buscar o tipo de alimentação que os nossos antepassados faziam no Paleolítico. Dando preferência à carne, peixe, ovos, legumes e frutas da época, frutos oleaginosos (nozes, amêndoas, etc.) e frutos vermelhos, sem o consumo de cereais, e poucas leguminosas.
Tratem bem do vosso intestino para viverem muitos anos sem qualquer problema de saúde.

Ah, e experimente fazer o jejum. Muito bom para o nosso bem-estar físico e mental.

 

Sejam saudáveis e realizados!

Filipe Rocha

 

[1] http://diabetes.diabetesjournals.org/content/37/12/1595.abstract

[2] http://www.elsevier.pt/pt/revistas/revista-portuguesa-cardiologia-334/artigo/sindrome-metabolica-sua-existencia-e-utilidade-do-diagnostico-90155872

[3] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19280993

[4] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26911132

 
 
 
 

 
 

 

Cancro da Mama – A queda do mundo, ou um renascimento?!

A milagrosa pílula anticoncecional que veio salvar muitas jovens e mulheres adultas de sofrerem os sintomas pré-menstruais, a maravilhosa terapia de substituição hormonal que livrou muitas mulheres, que entraram na menopausa, dos terríveis afrontamentos e das mudanças de humor… Serão assim tão boas?! Sofre ou já sofreu de cancro na mama, mas os médicos não lhe indicaram algumas mudanças alimentares fundamentais? Vamos então abordar um pouco este delicado assunto, de forma simples para que seja de fácil compreensão a todos.

Eu era para escrever este artigo um pouco mais tarde, mas os casos de cancro na mama são cada vez mais frequentes, e cada vez mais em mulheres jovens, e quase que sabemos de um novo caso diariamente. São mais de 5500 casos anuais, mais de 15 casos por dia em Portugal! São situações cada vez mais próximas, familiares ou amigas que padecem deste sofrimento, que abalam física e emocionalmente a mulher e todos que a rodeiam.

Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, há diversos tipos de cancro da mama, mas o mais comum é o hormonodependente (cerca de 70%), ou seja, em que o aspeto hormonal está envolvido.

E como é que podemos diagnosticar um cancro na mama?! Bem, há sinais mais evidentes e que aconselho as minhas pacientes a fazer com alguma regularidade a palpação da mama, pois qualquer caroço ou massa estranha detetada na palpação poderá indicar algum problema.

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Contudo, por vezes, em mamas com mais tecido mamário pode haver dificuldade em encontrar alguma massa diferente, pelo que há outros sinais que deverão despertar à atenção. Ao fazer a palpação da mama, a mulher deve também palpar a axila, onde se encontram os gânglios linfáticos, e estes também podem apresentar algumas alterações, como dor ou inchaço. Por vezes um cansaço maior sem grandes esforços, perda de peso ou transpiração excessiva podem indicar que algo não está bem.

Quando há alguma suspeita, recorre-se a dois exames fundamentais: a mamografia e a ecografia. Em Portugal existe um plano nacional de rastreio contra o cancro da mama que abrange todas as mulheres entre os 45 e os 69 anos de idade, com mamografias gratuitas de 2 em 2 anos [1]. A utilização da mamografia é por vezes discutida pelo uso de radiação, mas não vou entrar por aí, pois acho que é importante uma consciencialização de todas as mulheres para este problema real, e que qualquer uma pode ser afetada.

Há diversos fatores que contribuem para o risco de cancro mamário estar mais aumentado em algumas mulheres do que noutras:

– antecedentes familiares – a parte genética tem a sua fatia nos fatores de risco, em que os oncogenes (genes que desencadeiam tumores) pode estar mais evidentes e que os genes supressores de tumores (como o nome indica, são genes que combatem o desenvolvimento de tumores) são “mais fracos”, contudo, como já falei no artigo da Epigenética, alimentação e hábitos de vida saudáveis podem mudar o nosso futuro;

– mulheres que nunca tiveram filhos (a amamentação é extremamente benéfica não só para o bebé, mas tem igualmente um efeito protetor para a mulher) [2];

– tabagismo e alcoolismo;

– excesso de peso pós menopausa (8% a mais por cada 10 Kg além do peso recomendado);

– consumo excessivo de hormonas.

Aqui é um dos pontos que quero elucidar. Os métodos contracetivos hormonais (pilulas, pensos, etc.) e as terapias de substituição hormonal química são péssimas! Às minhas pacientes que tomam pílula ou que já estão na menopausa e fazem tratamentos químicos de substituição desaconselho a continuarem esse tipo de medicação! A maior parte dos estudos indicam que tanto as pílulas anticoncecionais, como a terapia hormonal de substituição potenciam o desenvolvimento do cancro da mama [3], além de potenciar o seu desenvolvimento em idades mais jovens [4], podendo mesmo até atrasar um diagnóstico precoce [5]. As pílulas não devem ser tomadas mais do que 2 anos seguidos, sendo um risco de 4 a 5 vezes maior se as mulheres tomarem a pílula durante 6 anos ou mais, especialmente se começarem antes dos 25 anos de idade [6].

Ok, há mulheres que sofrem muito com a menstruação, mas há outras formas de controlar esses sintomas e que não causam o risco para a sua saúde futura, tal como o Óleo de Onagra ou o de Borragem. Temos suplementos alimentares capazes de controlar qualquer que seja o tipo de desconforto. Nas mulheres que estão a entrar na menopausa, ou mesmo naquelas que já está confirmada, temos também alternativas de fazer essa substituição hormonal de forma natural, com a Cimicifuga ou um Agno Casto, que reduzem imenso os afrontamentos, os suores, as mudanças de humor e até mesmo as variações de peso. Não indiquei as tão faladas Isoflavonas de Soja porque não sou muito apologista da sua utilização. A isoflavona de soja é um fitoestrogénio, ou seja, um estrogénio de origem vegetal, e a sua forma é muito semelhante ao estrogénio produzido pelo corpo humano, e há estudos contraditórios com a utilização destas isoflavonas. Uns dizem que pode potenciar o desenvolvimento de cancros hormonodependente (mama, útero, ovário, etc), outros indicam que não têm influência nenhuma neste tipo de cancro… Eu como gosto de “jogar pelo seguro”, e ainda por cima temos outras plantas para o mesmo efeito, não utilizo as isoflavonas de soja.

O tratamento do cancro da mama irá depender de alguns fatores (tais como idade da paciente e do estágio do cancro), mas quase sempre passa por uma abordagem cirúrgica, seguida de quimioterapia e/ou radioterapia.

Na parte cirúrgica pode ir desde a mastectomia (retira-se a mama por completo), quadrantectomia (retira-se um quarto da mama) ou a lumpectomia (onde se retira uma pequena parte da mama). Esta cirurgia além dos “normais” riscos de uma intervenção acarreta, acaba por ser devastadora para a parte emocional da mulher, mas há a hipótese de mais tarde se proceder a uma reconstrução mamária, devolvendo novamente uma maior integridade à mulher.

Após a cirurgia, há que se fazer uma reavaliação multidisciplinar para ver se há necessidade de tratamentos posteriores (com a quimioterapia ou radioterapia).

Estes tratamentos também são complicados devido aos seus efeitos secundários (baixa de sistema imunitário, náuseas, perca de qualidade de vida generalizada…), e cada vez mais se começa a discutir a real eficácia no tratamento de doenças oncológicas [7].

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Mas não haverá outra solução sem tantos contras?!

Claro que há, e não faltam estudos científicos a demonstrar que sim!

Antes de apresentar as outras possibilidades de tratamento, acho que prioritária será a alimentação. As células tumorais têm 10 vezes mais recetores de glicose em comparação às células normais. É isto que vai permitir que o cancro se desenvolva muito mais rapidamente, pois ele alimenta-se de açúcar, e tem as ferramentas para agarrar muito mais glicose. Assim é essencial restringir o consumo, não só de açúcar, mas também de hidratos de carbono (pois estes transformam-se em açúcares quando são digeridos). Tal como o açúcar, aconselho igualmente às minhas pacientes a eliminação total do leite e dos seus derivados, por causa dos seus malefícios, como expliquei no meu artigo sobre o leite.

As crucíferas (couves, brócolos, nabos, etc.) são dos melhores alimentos que podemos consumir, com propriedades anticancerígenas e mesmo de tratamento. Outros alimentos que podemos incluir são os frutos vermelhos (mirtilos, framboesas, amoras, etc.) e um copo de vinho (a cada refeição), tudo pelos seus antioxidantes. Existem mesmo estudos que indicam o chá verde como preventivo do cancro da mama [8].

Voltando às “alternativas” de tratamento, há um que para mim leva vantagem sobre a “quimio” e a “radio”. A Vitamina D é fundamentalíssima para todos nós, e ainda mais para qualquer doente oncológico.

Já devem estar a pensar, lá vem ele novamente com a Vitamina D, mas a realidade é esta! Os estudos mostram que a Vitamina D promove não só um efeito protetor anticanceroso, mas também promove a apoptose (a morte das células cancerígenas) [9][10], e estes são apenas 2 estudos dos imensos que existem publicados. Mas como não são vitaminas que dão rendimento à indústria farmacêutica, o interesse em desenvolver tratamentos realmente eficazes ficam para trás.

Além disto, podem ser adicionados mais alguns suplementos com mais vitaminas e selénio, e alguns medicamentos homeopáticos também são muito eficazes!

Se ainda não tem nenhum problema, adote um estilo de vida mais saudável, pratique exercício físico, reduza o consumo de gorduras trans, de trigo, alimentos processados e leite.

Acredite que o cancro da mama não é o fim, o seu mundo é abalado mas não cai! O cancro é apenas um grito que o nosso corpo dá e nos faz despertar para termos uma vida mais saudável! E não é apenas a mulher que tem de se tratar, todos os que estão à sua volta também têm de se consciencializar para uma nova fase na vida! Todos temos de mudar!

 

Sejam saudáveis e realizados!

Filipe Rocha

 

[1] http://laco.pt/cancro-mama/preven%C3%A7%C3%A3o-riscos/rastreio

[2] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26262729

[3] http://www.apocpcontrol.org/paper_file/issue_abs/Volume16_No9/3957-3960%203.22%20Syed%20Mustafa%20Karim.pdf

[4]http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26400124

[5] http://www.termedia.pl/Breast-cancer-risk-factors,4,25806,1,1.html

[6] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6138501

[7] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15630849

[8] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12845655

[9] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3081446/

[10] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10519395



 

O Colesterol, o Vilão fabricado

E se eu lhe disser que ter um colesterol “elevado” não indica um risco cardiovascular?! E se eu lhe disser que ter um colesterol baixo, aumenta o risco de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer?! E se eu lhe disser que a estatina (medicamento para baixar o colesterol) lhe aumenta o risco de enfarte e lhe ataca o fígado?! Não acredita?! Este é outro dos artigos com ligações para diversas entidades oficiais para não pensarem que inventei o que digo.

O colesterol foi isolado e identificado pela primeira vez em 1758 em pedras da vesícula, pelo Dr. François Poulletier de la Salle (Médico e Químico), e trata-se de um álcool que todos nós possuímos. Temos entre 35g a 40g, diariamente o nosso fígado produz cerca de 1 g, está maioritariamente presente nas membranas celulares, mas também se encontra nos mais variados tecidos do nosso corpo. A produção endógena (pelo fígado) conta com 70% do total existente, e apenas 30% que obtemos pela alimentação.

Assim já podemos ver que se temos colesterol “elevado”, a culpa maior não será da alimentação! Tenho colocado o “elevado “ entre aspas já que na verdade o que é chamado de colesterol elevado é puro engano!

A história dos níveis “elevados “ de colesterol começou na década de 50 do século passado, com o desenvolvimento de novos métodos de análise das lipoproteínas pelo Professor John Gofman, da Universidade da Califórnia em Berkeley, chegando a conclusões que os níveis mais elevados de LDL (“mau colesterol”) estavam presentes em pacientes com enfartes, enquanto o risco era menos em pacientes com níveis elevados de HDL (“colesterol bom”). Poucos anos mais tarde, o Dr. Ancel Keys da Universidade do Minnesota publicou um artigo que afirmava sem qualquer dúvida que os níveis altos de colesterol eram a causa das doenças cardiovasculares! (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3108295/).

O colesterol é de extrema importância no metabolismo das vitaminas lipossolúveis, entre as quais a vitamina A, D, E e K. Ele é o percursor da vitamina D, e já vimos no artigo da Vitamina D a sua real importância. Se pela exposição solar esta já é deficiente, se não temos colesterol nas quantidades adequadas, a carência desta vitamina ainda se torna mais gritante!

Estudos mostram que baixos níveis de colesterol, reduzidos com ou sem recurso a estatinas, reduzem os retores de serotonina (a “hormona do bem-estar”) ao nível cerebral, levando a estados depressivos, comportamentos violentos e tendências suicidas (http://medind.nic.in/jal/t13/i4/jalt13i4p339.pdf e http://www.ijnpnd.com/article.asp?issn=2231-0738;year=2014;volume=4;issue=1;spage=69;epage=73;aulast=Thomas).

Outros estudos recentes demonstram igualmente que a utilização de estatinas, a tal “pílula mágica” para baixar o colesterol, tem aumentado o risco dos pacientes desenvolverem a Doença de Parkinson, ao contrário do que era alegado, aumentam também o risco de desenvolvimento de Diabetes (http://www.express.co.uk/life-style/health/562600/Parkinsons-link-statins-mass-use-drug-risk-thousands-developing-nerve-disease e http://www.medicaldaily.com/common-cholesterol-drugs-may-not-lower-risk-parkinsons-disease-evidence-behind-323126).

O malfadado LDL, chamado de “mau”, não passa de uma lipoproteína de transporte, que tem como função pegar no colesterol bom e levá-lo ao cérebro, onde terá funções muito importantes, como já referi anteriormente, implica na proteção contra o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. Mas atenção, a partir do momento que começamos a ingerir muitas gorduras trans, explicadas noutro artigo, o LDL oxida, e aí sim, torna-se prejudicial.

Já num estudo de 1992 (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1503812), os investigadores indicam que níveis baixos de colesterol podem potenciar o desenvolvimento de cancro! Possivelmente na relação de colesterol-produção de vitamina D, e o seu efeito protetor contra tumores, como expliquei no artigo da vitamina D.

Cada vez mais os clínicos e investigadores concordam que pegar isoladamente nos valores de colesterol para avaliar os riscos cardiovasculares torna-se insuficiente (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8749272), até porque 75% dos pacientes com doenças cardíacas têm valores de LDL dentro dos limites (http://newsroom.ucla.edu/releases/majority-of-hospitalized-heart-75668).

Voltando às “maravilhosas” estatinas, a sua toma vai interferir com a produção de Coenzima Q10, extremamente importante para a prevenção de problemas cardiovasculares, musculares, Doença de Parkinson, e igualmente indicada na ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), cancro, diabetes, etc. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ubiquinona). A Q10 tem igualmente um efeito protetor das células do fígado. A Farmacêutica Merck tem a patente de um medicamento que associa a estatina à coenzima Q10 (http://www.functionalmedicineuniversity.com/statin-CoQ10.pdf), desde 1990, mas não lança este medicamento!

Será que não há interesse em admitir que as estatinas são assim tão prejudiciais?! Realmente há necessidade de baixar os níveis de colesterol com estas evidências todas?! Querem as farmacêuticas perder um negócio de milhões e milhões com a venda de um medicamento (as estatinas) que só prejudica os pacientes?! Informem-se, leiam, questionem os vossos médicos, eles próprios iludidos pela indústria farmacêutica.

E não vão na conversa das margarinas que baixam o colesterol! Já expliquei que não funcionam assim no artigo das margarinas e da manteiga.

Nos meus pacientes sempre que os valores de colesterol superam um pouco os 200 mg/dL, até aos 240 mg/dL, não me preocupo, explico-lhes a verdade, que estão bem, que estão protegidos contra os que eles estão realmente preocupados.

 

 

Sejam saudáveis e realizados!

Filipe Rocha

Vitamina D

A polémica vitamina D, que pode atacar os rins e o fígado! Será mesmo?! Será a vitamina D o tratamento para dezenas de doenças, mas que foi tornada a “má da fita” pois não dá dinheiro à indústria farmacêutica… Cancro da mama, cancro da pele, doenças autoimunes (Esclerose Múltipla, Psoríase, etc). Com links para entidades acreditadas para que não hajam dúvidas! Desculpem-me o texto logo, mas se eu fosse explicar tudo, ainda maior seria!

A vitamina D é na realidade uma hormona que podemos obter através da exposição à luz solar direta, ou através da toma de ergocalciferol (vitamina D2 de origem vegetal) ou de colecalciferol (vitamina D3 de origem animal).

Hoje em dia a Dose Diária de Referência (DDR) varia entre as 100 UI (Unidades Internacionais) e as 400 UI, dependendo do país e dependendo da idade. Mas este valor é absurdo e está totalmente desfasado da realidade. Um estudo estatístico do ano passado de Paul J. Veugelers e John Paul Ekwaru, da Escola Pública de Saúde da Universidade de Alberta, no Canadá (podem fazer o download em http://www.mdpi.com/2072-6643/6/10/4472/pdf), publicado pelo Multidisciplinary Digital Publishing Institute, uma instituição que publica artigos científicos acreditados pela comunidade científica com sede na Suíça, mostrou que a DDR de vitamina D foi mal calculada no estudo feio pelo Institute of Medicine (IOM), a pedido dos governos dos EUA e do Canadá. O IOM calculou a DDR de vitamina D em 600 UI, mas o estudo estatístico do ano passado veio a confirmar o quão díspar é essa quantidade, pois na realidade para se manterem valores mínimos aceitáveis de vitamina D serão precisas 8895 UI, sim, são precisas quase 15 vezes mais unidades internacionais que o proposto! Atenção, não é invenção minha, nem dos meus colegas das terapias complementares!

Sem se saber, a carência em vitamina D é quase uma regra por todo o mundo, e na maior parte das pessoas sem que se apercebam.

A melhor forma de termos a vitamina D em quantidades ótimas é mesmo através de exposição solar, mas o estilo de vida que temos hoje em dia não nos permite receber a quantidade necessária, passamos dias inteiros fechados nos locais de trabalho, já não se fazem atividades lúdicas ao ar livre, quando vamos à praia utilizamos protetor solar em excesso… Sim, protetor solar em excesso (e agora pensam vocês, é desta que se passou da cabeça!). A síntese de vitamina D pelo sol dá-se quando os raios UVB penetram a nossa pele, pelo que com um protetor solar de fator 8, já essa produção é reduzida em mais de 3/4. Nos últimos anos as campanhas para utilização de protetor solar na Austrália têm sido enormes, o que não impediu que entre 1986 e 2006 os cancros de pele duplicassem (http://www.melanoma.org.au/understanding-melanoma/melanoma-facts-and-statistics/). Isto é explicado pelo efeito protetor da vitamina D no cancro da pele. O mesmo se verifica pelo resto do mundo em que o aumento da utilização dos protetores solares, trouxe consigo um aumento do número de cancros da pele! Será por alguns dos componentes dos protetores serem cancerígenos (dava mais uma história completa só com este tema…), ou pela falta da vitamina D que é produzida em pouca quantidade?!

Além do cancro da pele, a vitamina D tem demonstrado resultados muito favoráveis em outros tipos de cancro, nomeadamente no cancro da mama. Pacientes com valores mais altos de vitamina D têm um risco reduzido de vir a sofrer de cancro da mama, e quando este aparece, esta mesma vitamina ajuda na apoptose (morte das células do cancro) e no aumento da esperança de vida das doentes (http://www.breastcancer.org/risk/factors/low_vit_d e http://www.medicalnewstoday.com/articles/273728.php). Tem igualmente evidências em pelo menos mais 15 tipos de cancro, além dos já citados, no da próstata e no colorretal, a vitamina D também ajuda neles.

vitamin-D

Ao nível de sistema imunitário, pessoas com níveis ótimos de vitamina D têm menos propensão às infeções do tempo frio, como gripes e constipações (http://www.wsj.com/articles/SB10001424052748704156304576003531437073192), e até mesmo para acelerar o processo de cura nestas infeções tomando doses altas de vitamina D.

Ainda na parte imunológica, a vitamina D tem demonstrados efeitos excelentes nas doenças autoimunes. Um neurologista brasileiro, o Dr. Cícero Coimbra, já há mais de 1 década que trata milhares de pacientes com Esclerose Múltipla com altas doses de vitamina D e outros suplementos, sem qualquer recurso a químicos. Eu já tenho vindo a implementar este tratamento (adaptado com mais alguma suplementação) em alguns pacientes. O Dr. Cícero também já testou este tratamento em outras autoimunes, como a Psoríase e a Artrite Reumatóide.

Em 1903, o Nobel da Medicina foi atribuído ao Dr. Niels Ryberg Finsen, pela descoberta das propriedades da luz, mais propiamente dos raios UV (Lembro que os UVB desencadeiam a produção da vitamina D), no tratamento de doenças da pele.

Voltando à produção da vitamina D pela exposição solar, e aqui posso aumentar a polémica e revolta em algumas pessoas. A melhor hora para a produção de vitamina é quando os raios solares estão mais perpendiculares, ou seja, entre as 12h e as 15h, as horas “perigosas”. Mas não precisamos de estar 3 horas expostos ao sol! Os estudos mostram que 10 a 15 minutos, com pernas e braços expostos, o organismo consegue produzir entre 15.000 UI e 20.000UI de vitamina D. Só por aí vemos o absurdo das DDR que atualmente são norma na maior parte dos países. Mas mesmo fora dessas horas, já há uma boa produção de vitamina D. Por isso eu aconselho sempre os meus pacientes quando vão à praia, a primeira meia hora da manhã, a exposição ao sol deve ser feita sem qualquer tipo de proteção! Após esse período, a melhor proteção é vestir roupas claras e estar debaixo do guarda-sol. E quando vamos à praia, quantos jovens (e não só) vemos deitados nas toalhas horas esquecidas ao sol sem qualquer tipo de proteção?! E até agora ainda não ouvi falar de nenhuma morte por excesso de vitamina D por causa de exposição solar…

Os primeiros efeitos da vitamina D descobertos foram na absorção do cálcio. Mais uma evidência da carência desta vitamina, com o crescente número de pacientes com osteopénia e osteoporose, situações que são razoavelmente “fáceis” de reverter com a ingestão adequada de vitamina D e de Cálcio de Coral, nada de cálcio inorgânico “da farmácia” pois a percentagem da sua absorção e fixação é muito reduzida.

E as potencialidades da vitamina D alargam-se por muito mais patologias, desde o sistema cardíaco, na diabetes, em casos de autistas… São mais de 600 funções no nosso organismo em que a vitamina D entra.

A questão da principal problemática da vitamina D é que não é rentável financeiramente! A indústria farmacêutica não tem interesse nela pois não consegue ganhar dinheiro com ela. E o que não mexe dinheiro, não tem interesse! E claro que declara guerra à vitamina D pois ela é extremamente segura, pode ser tomada por qualquer pessoa, e com efeitos colaterais mínimos ou mesmo nulos. Basta eliminar o leite e os seus derivados, já discutido aqui, e beber muita água para manter os rins em bom funcionamento (mas isso é uma recomendação que todos devemos seguir).

 

Sejam saudáveis e realizados!

Filipe Rocha

O Intestino

Tem depressão? Tem alergias? Tem asma? O bebé nasceu de cesariana e anda sempre doente? Acha que o intestino não está relacionado com nenhum destes assuntos?! Se calhar é melhor ler este artigo…

Já no final do século passado o Dr. Michael D. Gershon (professor de anatomia e biologia celular) lançou um livro, “O Segundo Cérebro”, a relatar a importância que este órgão tem no nosso organismo, mas que a comunidade médica teima em desvalorizar (à exceção dos gastroenterologistas) e a considera-lo um órgão “secundário”. Neste últimos meses têm surgido mais publicações (felizmente!) relacionadas com o intestino.

Logo para se ver a sua importância, nas primeiras semanas do desenvolvimento embrionário, quando as células começam a fazer a diferenciação a que órgão vão pertencer, o sistema nervoso e o intestino são das primeiras estruturas que começam a aparecer, ou seja, há uma grande ligação logo de início entre o cérebro e o intestino.

Em números, o intestino tem quase a mesma quantidade de neurónios que o cérebro, e consegue ter mais do que a espinal medula. O intestino tem um sistema de controlo quase autónomo, o que permite que este funcione mesmo quando o cérebro esteja afetado, isto é, mesmo que a pessoa esteja em coma, o intestino continua “na dele” a funcionar e a digerir os alimentos.

O intestino é a nossa primeira barreira de defesa, em que mais de 2/3 do sistema imunitário se encontra aí. Podemos ver quando comemos algo estragado, a reação do organismo é logo vomitar ou provocar uma diarreia.

Além do mais, o microbioma ou microbiota intestinal (antigamente chamado de flora intestinal) também atua como sistema imunitário, rejeitando tudo o que seja nocivo para o nosso organismo. Temos centenas, e possivelmente milhares, de estirpes (espécies) de bactérias boas no nosso intestino, são elas que compõem o nosso microbioma intestinal, e já há médicos e cientistas que começam a considera-lo mais um órgão do nosso organismo, já que todas somadas podem chegar a pesar 2 kg!

O microbioma intestinal é essencial para a nossa sobrevivência, além de funções defensivas, é igualmente responsável pela transformação dos alimentos na digestão, fazendo com que sejam melhor absorvidos, mas também algumas bactérias são produtoras de vitaminas, como a B12 e K.

A serotonina, um neurotransmissor que muitas vezes é chamado de “hormona da felicidade” já que modula no nosso humor e consegue ajudar no controlo do ritmo circadiano e do sono, tem a sua principal produção no intestino, responsável por 95% da sua produção, e uns meros 5% só no cérebro. Estudos indicam que a serotonina está igualmente ligada a problemas relacionados com ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia. Já está a ver se o intestino não está bom, até que ponto nos pode influenciar?!

Mas ainda não ficamos por aqui!

Além da serotonina, ainda são produzidos mais de 30 neurotransmissores no intestino, que controlam as mais diversas funções que se possam imaginar.

Há 3 “bióticos” importantes no intestino:

  • antibióticos – são contra a vida, são os medicamentos que utilizamos que utilizamos para combater as infeções que o nosso sistema imunitário não consegue combater. Mas estes antibióticos não matam só os agentes patogénicos, eles matam igualmente as nossas bactérias boas;
  • probióticos – são a favor da vida, são as bactérias que podemos ingerir que vão reforçar o microbioma intestinal, e podemos consumir alguns alimentos fermentados que contenham essas bactérias;
  • prebióticos – são o alimento da vida, geralmente são fibras que alimentam os probióticos. Os mais conhecidos são os Fruto-oligossacarídeos e os Galacto-oligossacarídeos.

Hoje em dia no mercado já existe os chamados simbióticos, que são uma mistura dos probióticos e os prebióticos, simbióticos estes que devem ser sempre associados a uma toma de antibióticos.

Os probióticos são bastante úteis quando fazemos alguma suplementação ou outra medicação, pois geralmente facilitam a absorção dos componentes necessários.

O nosso microbioma intestinal vai-se contruindo ao longo da vida, e já foram feitos estudos que encontraram algumas bactérias logo no micónio (as primeiras “fezes” do recém nascido), mas elas são adquiridas logo no momento do parto, quando o bebé passa pela vagina, sendo “infetado” pelas bactérias da mãe. Daí a importância do parto natural em vez da cesariana, pois isso irá prevenir futuras doenças na criança, e até mesmo em adulto. Caso o bebé nasça de cesariana, pode-se desde logo começar com uma suplementação em probióticos adequado para os primeiros meses de vida.

Um bom microbioma intestinal desde jovens, tem sido conotado com menos casos de asma nas crianças e em adulto.

Há outros problemas que estão associados a uma síndrome chamado de intestino poroso. O intestino poroso é quando no intestino há pequenas fendas, que deixam passar moléculas ou outras impurezas para o sangue, causando assim respostas inflamatórias no organismo.

Este intestino poroso tem sido igualmente ligado às doenças autoimunes (Esclerose Múltipla, Artrite Reumatóide, Psoríase, Lúpus, etc.) e à reações alérgicas. O Leite (já falado) e o Glúten (sendo o trigo o pior inimigo, também já discutido) são os mais conhecidos, podendo levar a graves sintomas. Esta alergia ao glúten é conhecida como a Doença Celíaca. Hoje em dia há cada vez mais pessoas com Doença Celíaca, mas há também cada vez mais pessoas com pequenas intolerâncias ao glúten, que se manifesta com barrigas inchadas ao fim do dia, fadiga, até mesmo problemas de concentração!

Daí que uma das minhas principais preocupações com os meus pacientes é que estes tenham um intestino bom, que se o intestino estiver em boas condições, será muito mais fácil recuperar a boa saúde.

Havia muito mais para se falar do intestino, mas penso que por aqui já ficamos com uma vista bem alargada da importância. Por isso vamos tratar bem do nosso intestino, é por ele que nos alimentamos, mas é igualmente ele responsável por nos proteger e manter bem-dispostos! Como já referi anteriormente, comam fruta e muitos legumes!

 

Sejam saudáveis e realizados!

Filipe Rocha